quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Coisa de preto, coisa de República, coisa de Dilma...

Coisa de preto, coisa de República, coisa de Dilma...

Por Jurandir Dias

Há dias atrás repercutiu largamente no noticiário nacional e internacional o caso de William Waack, jornalista da Globo, acusado de racismo e afastado de suas funções por causa da infeliz expressão “coisa de preto”.

Tudo começou há um ano quando William Waack, então âncora do Jornal da Globo, anunciava a vitória de Donald Trump nas eleições americanas.  Antes de entrar ao vivo, mas com as câmeras e microfones ligados, ele se irrita com o som de buzinas vindo da rua, diz alguns impropérios e exclama: “fazer isto é coisa de preto”.

No dia 07 de novembro p.p., William Waack, no Jornal da Globo, a propósito do centenário da revolução russa,  exibia fotos de Leon Trotsky, Stalin e Lenin, sobre os quais comentou: “Cem anos atrás nem eles achavam que poderiam se manter no poder em Moscou, mas conseguiram. Conseguiram às custas das liberdades que diziam defender. Lenin iniciou um dos mais bárbaros, sanguinários e opressores regimes da história da humanidade. A Revolução Russa levou à criação do que foi o maior estado do século XX: a União Soviética. Este estado implodiu em 1991 sob o peso da própria incapacidade de fazer a economia funcionar.(...) A revolução russa prossegue sendo um símbolo poderoso. Não é à toa que a gente escolheu este símbolo (a bandeira da União Soviética) para que vocês vejam, confiram.  A bandeira da União Soviética não existe mais. Ela é o símbolo de que utopias interpretadas e conduzidas por partidos políticos que acham que sabem o que é melhor para as pessoas. Essas utopias terminam em regimes repulsivos e totalitários. O russos deram pouca atenção hoje à data.”

Coincidência ou não, no dia seguinte a esse comentário,  “vazou” na imprensa aquele de um ano atrás e em seguida o jornalista foi dispensado de suas funções. Isto parecia uma carta guardada na manga para usar no momento propício.

O fato foi motivo de comentários de especialistas e jornalistas, entre os quais destaco o do  prof. Paulo Cruz, mestre em Ciência e Religião:

 Mas as palavras de Waack não fazem dele um racista. Eu diria assim: todo racista diz aquilo, mas nem todos que dizem aquilo são racistas. Esse tipo de estupidez está no imaginário brasileiro há mais de um século. E mais: não sem um fundo de verdade. Acompanhe meu raciocínio, caro leitor.
“Após a proclamação da República, os republicanos sepultaram a esperança dos negros, lançando-os na mais absoluta marginalidade.

“No fim do século 19, o movimento abolicionista pedia o fim da escravidão sem indenização aos fazendeiros; os novos cidadãos livres é que seriam auxiliados. Para isso, André Rebouças escrevia sobre reforma agrária, e a princesa Isabel, principal aliada do movimento, coordenava um projeto de indenizações aos ex-escravos. Em carta reveladora ao Visconde de Santa Vitória (sócio do Barão de Mauá), agradece a intenção do banqueiro em colaborar com a causa.

Princesa Isabel
“O problema é que, um ano e seis meses após a assinatura da Lei Áurea, um golpe militar minou o projeto abolicionista. A família imperial foi expulsa do país e os republicanos sepultaram a esperança dos negros, lançando-os na mais absoluta marginalidade. Joaquim Nabuco, numa carta a Rebouças em 1893, disse: ‘Com que gente andamos metidos! Hoje estou convencido de que não havia uma parcela de amor do escravo, de desinteresse e de abnegação em três quartas partes dos que se diziam abolicionistas. [...] A prova é que fizeram esta República e depois dela só advogaram a causa dos bolsistas, dos ladrões da finança, piorando infinitamente a condição dos pobres. É certo que os negros estão morrendo e, pelo alcoolismo, se degradando ainda mais do que quando escravos, porque são hoje livres, isto é, responsáveis, e antes eram puras máquinas, cuja sorte Deus tinha posto em outras mãos (se Deus consentiu na escravidão)’

“Em resposta, Rebouças também lamenta: ‘Ah, meu bom Nabuco, que erro irreparável foi desviar o Brasil da evolução democrática iniciada pela Abolição, para lançá-lo no redemoinho das revoluções incessantes e intermináveis”. Posteriormente, o sociólogo marxista Florestan Fernandes, mesmo atribuindo a condição do negro única e exclusivamente a fatores externos, diz que “muitos agiam como ‘desordeiros’, provocando repetidamente ‘forrobodós’ nos cortiços, pela madrugada, ou dentro de seus cômodos’.  (grifos nossos)

“Ou seja, associar “coisa de preto” à desordem reflete, infelizmente, a postura do próprio negro perante os desafios e impossibilidades que se impuseram no pós-abolição. Perpetuar essa mentalidade é um horror, mas não pior que perpetuar a “cultura de gueto”.[i]

O caso de William Waack nos trouxe algumas lições: aprendemos um pouco de história e vimos como a nossa República é como o demônio, ou seja, ela não dá o que promete. Aprendemos também que o PT, o Lula e a Dilma se consideram “coisa de preto”. Assim, em sua conta no Twitter, no dia 13 p.p., Dilma se expressou de um modo inegavelmente racista: “Esse foi um pensamento que tive depois do caso do William Waack. Você sabe o que é coisa de preto? O PT é coisa de preto. O Lula é coisa de preto. Nós somos coisa de preto. Eu sou uma coisa de preto”. Isto, contudo, é coisa de Dilma.

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