Coisa
de preto, coisa de República, coisa de Dilma...
Por Jurandir Dias
Há dias atrás repercutiu
largamente no noticiário nacional e internacional o caso de William Waack, jornalista
da Globo, acusado de racismo e afastado de suas funções por causa da infeliz expressão
“coisa de preto”.
Tudo começou há um ano
quando William Waack, então âncora do Jornal
da Globo, anunciava a vitória de Donald Trump nas eleições americanas. Antes de entrar ao vivo, mas com as câmeras e
microfones ligados, ele se irrita com o som de buzinas vindo da rua, diz alguns
impropérios e exclama: “fazer isto é
coisa de preto”.
No dia 07 de novembro
p.p., William Waack, no Jornal da Globo,
a propósito do centenário da revolução russa,
exibia fotos de Leon Trotsky, Stalin e Lenin, sobre os quais comentou: “Cem anos atrás nem eles achavam que poderiam
se manter no poder em Moscou, mas conseguiram. Conseguiram às custas das
liberdades que diziam defender. Lenin iniciou um dos mais bárbaros, sanguinários
e opressores regimes da história da humanidade. A Revolução Russa levou à
criação do que foi o maior estado do século XX: a União Soviética. Este estado
implodiu em 1991 sob o peso da própria incapacidade de fazer a economia
funcionar.(...) A revolução russa prossegue sendo um símbolo poderoso. Não é à
toa que a gente escolheu este símbolo (a bandeira da União Soviética) para que vocês vejam, confiram. A bandeira da União Soviética não existe mais.
Ela é o símbolo de que utopias interpretadas e conduzidas por partidos
políticos que acham que sabem o que é melhor para as pessoas. Essas utopias
terminam em regimes repulsivos e totalitários. O russos deram pouca atenção
hoje à data.”
Coincidência ou não, no
dia seguinte a esse comentário, “vazou”
na imprensa aquele de um ano atrás e em seguida o jornalista foi dispensado de
suas funções. Isto parecia uma carta guardada na manga para usar no momento
propício.
O fato foi motivo de comentários de
especialistas e jornalistas, entre os quais destaco o do prof. Paulo Cruz, mestre em Ciência e Religião:
“Mas as
palavras de Waack não fazem dele um racista. Eu diria assim: todo racista diz
aquilo, mas nem todos que dizem aquilo são racistas. Esse tipo de estupidez
está no imaginário brasileiro há mais de um século. E mais: não sem um fundo de
verdade. Acompanhe meu raciocínio, caro leitor.
“Após a proclamação da República,
os republicanos sepultaram a esperança dos negros, lançando-os na mais absoluta
marginalidade.
“No fim do século 19, o movimento
abolicionista pedia o fim da escravidão sem indenização aos fazendeiros; os
novos cidadãos livres é que seriam auxiliados. Para isso, André Rebouças
escrevia sobre reforma agrária, e a princesa Isabel, principal aliada do
movimento, coordenava um projeto de indenizações aos ex-escravos. Em carta
reveladora ao Visconde de Santa Vitória (sócio do Barão de Mauá), agradece a
intenção do banqueiro em colaborar com a causa.
Princesa Isabel |
“O problema é que, um ano e seis
meses após a assinatura da Lei Áurea, um golpe militar minou o projeto abolicionista.
A família imperial foi expulsa do país e os republicanos sepultaram a esperança
dos negros, lançando-os na mais absoluta marginalidade. Joaquim Nabuco, numa
carta a Rebouças em 1893, disse: ‘Com que gente andamos metidos! Hoje estou
convencido de que não havia uma parcela de amor do escravo, de desinteresse e
de abnegação em três quartas partes dos que se diziam abolicionistas. [...] A prova é que fizeram esta República e
depois dela só advogaram a causa dos bolsistas, dos ladrões da finança,
piorando infinitamente a condição dos pobres. É certo que os negros estão
morrendo e, pelo alcoolismo, se degradando ainda mais do que quando escravos,
porque são hoje livres, isto é, responsáveis, e antes eram puras máquinas, cuja
sorte Deus tinha posto em outras mãos (se Deus consentiu na escravidão)’
“Em resposta, Rebouças também
lamenta: ‘Ah, meu bom Nabuco, que erro
irreparável foi desviar o Brasil da evolução democrática iniciada pela
Abolição, para lançá-lo no redemoinho das revoluções incessantes e
intermináveis”. Posteriormente, o sociólogo marxista Florestan Fernandes,
mesmo atribuindo a condição do negro única e exclusivamente a fatores externos,
diz que “muitos agiam como ‘desordeiros’, provocando repetidamente ‘forrobodós’
nos cortiços, pela madrugada, ou dentro de seus cômodos’. (grifos nossos)
“Ou seja, associar “coisa de
preto” à desordem reflete, infelizmente, a postura do próprio negro perante os
desafios e impossibilidades que se impuseram no pós-abolição. Perpetuar essa
mentalidade é um horror, mas não pior que perpetuar a “cultura de gueto”.[i]
O caso de William Waack nos trouxe
algumas lições: aprendemos um pouco de história e vimos como a nossa República
é como o demônio, ou seja, ela não dá o que promete. Aprendemos também que o PT,
o Lula e a Dilma se consideram “coisa de preto”. Assim, em sua conta no
Twitter, no dia 13 p.p., Dilma se expressou de um modo inegavelmente
racista: “Esse foi um pensamento que tive
depois do caso do William Waack. Você sabe o que é coisa de preto? O PT é coisa
de preto. O Lula é coisa de preto. Nós somos coisa de preto. Eu sou uma coisa
de preto”. Isto, contudo, é coisa de Dilma.
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