quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Antônio Conselheiro, Católico e Monarquista



Por: Rodrigo da Costa Dias

Antônio Conselheiro via que Deus criou o mundo com um princípio monárquico, e sustentava que a forma de regime político que melhor seguia esse princípio era a monarquia, qualificada pelo Papa Pio VI como sendo em tese a melhor forma de governo – “praestantioris monarchici regiminis forma”

Caricatura da Revista Ilustrada, de Angelo Agostini,
mídia de propaganda republicana,
retratou Conselheiro tentando “barrar” a República.
Em nosso primeiro artigo sobre Antônio Conselheiro e o MST, mostramos que a Guerra de Canudos não foi uma mera luta por causa da terra ou em defesa da Reforma Agrária socialista e confiscatória. Mostraremos agora que essa luta entre os militares e os conselheiristas foi algo muito além do boato propagado pelo Dr. Arlindo Leoni, Juiz de Direito da comarca[1]; não foi uma simples disputa entre os jagunços e o exército. Foi a luta por um princípio metafisico.
Após a primeira batalha entre os dois contendores, os soldados chegados à Capital narravam que nunca haviam visto tanta ferocidade! Entre os gritos que ouviam na luta, lançados cara a cara, estava o de “republicanos!”, que soava como o pior dos insultos. “Viva o imperador! Morra a República!”, bradavam ainda os jagunços.
Ioiô da Professora[2], uma das últimas fontes de informação sobre Antônio Conselheiro e a Guerra de Canudos, contou um fato sintomático no mesmo sentido:
"Alguns jagunços foram presos. Aí [o comandante] Arthur Oscar disse: - Deixa eu experimentar esses home. Rapaz, você quer a liberdade? - Se o senhor me der, eu quero. - Vou lhe fazer uma proposta. Diga: ‘Viva a República! E morra Antônio conselheiro!’. Ele disse: - Morra a República E viva Antônio Conselheiro! - Rapaz, eu vou lhe dar a liberdade! Diga direito. Ele diz: - Eu já disse! - Diga de novo: ‘Viva a República! E morra Antônio Conselheiro!’. - Ele disse: Viva o Conselheiro e morra a República! - Leve ele pra degola, não tem jeito, não! E matava”[3].
A Guerra de Canudos acabou sendo uma guerra entre republicanos e monarquistas. O que acabou por espalhar pelo Brasil um clima de enfrentamento, com casos de brigas e mortes em ambos os lados.[4]
Os monarquistas de Canudos eram procedentes de várias partes do Brasil: pessoas de boas famílias, fazendeiros, ricos, mas também gente pobre. “Gente de todas as condições sociais acolhe-se ao grupo do Conselheiro. Basta ser de vida honrada”[5].

ANTÔNIO CONSELHEIRO E O PRINCÍPIO MONÁRQUICO E HIERÁRQUICO QUE REGE O UNIVERSO

Trono de de Dom Pedro II.
A união entre “o trono e o altar
estavam descritas na Constituição de 1824,
a religião católica era a religião oficial do Império.
Antônio Conselheiro via que Deus criou o mundo com um princípio monárquico, e sustentava que a forma de regime político que melhor seguia esse princípio era a monarquia, qualificada pelo Papa Pio VI como sendo em tese a melhor forma de governo – “praestantioris monarchici regiminis forma”[6]
Em seu sermão sobre a república, Antônio Conselheiro não considera a ordem monárquica como um princípio meramente político; ele via na monarquia um princípio metafisico e religioso. Citamos a seguir trechos desse sermão (grifos nossos):
“[...]Todo poder legítimo é emanação da Onipotência eterna de Deus e está sujeito a uma regra divina, tanto na ordem temporal como na espiritual, de sorte que, obedecendo ao pontífice, ao príncipe, ao pai, a quem é realmente ministro de Deus para o bem, a Deus só obedecemos. Feliz aquele que compreende esta celestial doutrina, livre da escravidão do erro e das paixões, dócil à voz de Deus e da consciência, goza da verdadeira liberdade de Deus. 
“É evidente que a república permanece sobre um princípio falso e dele não se pode tirar consequência legítima: sustentar o contrário seria absurdo, espantoso e singularíssimo; porque, ainda que ela trouxesse o bem para o país, por si é má, porque vai de encontro à vontade de Deus, com manifesta ofensa de sua divina lei. 
“Como podem conciliar-se a lei divina e as leis humanas, tirando o direito de quem tem para dar a quem não tem? Quem não sabe que o digno príncipe o senhor dom Pedro 3º tem poder legitimamente constituído por Deus para governar o Brasil? Quem não sabe que o seu digno avô o senhor dom Pedro 2º, de saudosa memória, não obstante ter sido vítima de uma traição a ponto de ser lançado fora do seu governo, recebendo tão pesado golpe, que prevalece o seu direito e, consequentemente, só sua real família tem poder para governar o Brasil? Negar estar verdades seria o mesmo que dizer que a aurora não veio descobrir o novo dia. O sossego de um povo consiste em fazer a vontade de Deus e para obter-se a sua glória é indispensável que se faça a sua divina vontade.[...]”[7].

* * *
A respeito desse princípio, o professor Plinio Corrêa de Oliveira disse as seguintes palavras:

“A monarquia, mais do que uma fidelidade à dinastia ou uma saudade do passado – que é também uma coisa boa, em seus termos; uma saudade do passado pode ser até muito respeitável – é uma doutrina que põe em vista um princípio. E esse princípio, que importa como corolário no princípio aristocrático, não é meramente um princípio político, é um princípio da ordem universal. É um princípio metafísico e religioso”.
“É o princípio de que a ordem ideal para universo é a ordem monárquica e aristocrática. Este é um princípio metafísico, é preciso não ver nele um princípio meramente político. Ele tem repercussões políticas, mas não quer dizer que necessariamente se deva ser monarquista. Essa, in concreto, é outra questão”[8].



Referências:



[1] Boato que originara a primeira expedição, conforme mencionamos no artigo anterior.
[2] Ioiô da Professora, codinome de João Siqueira Santos, era filho de Leolino Manoel dos Santos e Erotildes Siqueira dos Santos, primeira professora da Vila do Cumbe. Seu pai era um produtor rural da região que conheceu e negociava com Antônio Conselheiro. Seu Ioiô contava que a mãe serviu de enfermeira para os militares feridos vindos do palco da guerra. Ambos lhe deixaram muitas histórias sobre suas experiências com a guerra de Canudos
[4] Republicanos extremados invadiram as redações e tipografias dos jornais monarquistas Gazeta da Tarde, Liberdade, e Apóstolo; chegaram a queimar os estabelecimentos e o jornalista Gentil de Castro foi assassinado.
[5] Ataliba Nogueira, António Conselheiro e Canudos, p. 7
[6] “Monarquia, república e Religião” Catolicismo, novembro de 1996 

[7] Ataliba Nogueira, António Conselheiro e Canudos, p. 176 e 177

[8] De MATTEI, Roberto. O princípio monárquico no universo e o “tal enquanto tal”. Plinio Corrêa de Oliveira - Profetado Reino de Maria. p. 105

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