Por: Rodrigo da Costa Dias
Caricatura da Revista Ilustrada, de Angelo Agostini, mídia de propaganda republicana, retratou Conselheiro tentando “barrar” a República. |
Após a primeira batalha entre os dois contendores, os soldados chegados à Capital narravam que nunca haviam visto tanta ferocidade! Entre os gritos que ouviam na luta, lançados cara a cara, estava o de “republicanos!”, que soava como o pior dos insultos. “Viva o imperador! Morra a República!”, bradavam ainda os jagunços.
Ioiô
da Professora[2], uma das últimas fontes de informação sobre Antônio
Conselheiro e a Guerra de Canudos, contou um fato sintomático no mesmo sentido:
"Alguns
jagunços foram presos. Aí [o comandante] Arthur Oscar disse: - Deixa eu
experimentar esses home. Rapaz, você quer a liberdade? - Se o senhor me
der, eu quero. - Vou lhe fazer uma proposta. Diga: ‘Viva a República! E morra
Antônio conselheiro!’. Ele disse: - Morra a República E viva Antônio
Conselheiro! - Rapaz, eu vou lhe dar a liberdade! Diga direito. Ele diz: - Eu
já disse! - Diga de novo: ‘Viva a República! E morra Antônio Conselheiro!’. -
Ele disse: Viva o Conselheiro e morra a República! - Leve ele pra degola, não
tem jeito, não! E matava”[3].
A
Guerra de Canudos acabou sendo uma guerra entre republicanos e monarquistas. O
que acabou por espalhar pelo Brasil um clima de enfrentamento, com casos de
brigas e mortes em ambos os lados.[4]
Os
monarquistas de Canudos eram procedentes de várias partes do Brasil: pessoas de
boas famílias, fazendeiros, ricos, mas também gente pobre. “Gente de todas as
condições sociais acolhe-se ao grupo do Conselheiro. Basta ser de vida honrada”[5].
ANTÔNIO
CONSELHEIRO E O PRINCÍPIO MONÁRQUICO E HIERÁRQUICO QUE REGE O UNIVERSO
Trono de de Dom Pedro II. A união entre “o trono e o altar” estavam descritas na Constituição de 1824, a religião católica era a religião oficial do Império. |
Em seu
sermão sobre a república, Antônio Conselheiro não considera a ordem monárquica
como um princípio meramente político; ele via na monarquia um princípio
metafisico e religioso. Citamos a seguir trechos desse sermão (grifos nossos):
“[...]Todo
poder legítimo é emanação da Onipotência eterna de Deus e está sujeito
a uma regra divina, tanto na ordem temporal como na espiritual, de
sorte que, obedecendo ao pontífice, ao príncipe, ao pai, a quem é realmente
ministro de Deus para o bem, a Deus só obedecemos. Feliz aquele que compreende
esta celestial doutrina, livre da escravidão do erro e das paixões, dócil à voz
de Deus e da consciência, goza da verdadeira liberdade de Deus.
“É
evidente que a república permanece sobre um princípio falso e dele não se pode
tirar consequência legítima: sustentar o contrário seria absurdo, espantoso e
singularíssimo; porque, ainda que ela trouxesse o bem para o país, por si é má,
porque vai de encontro à vontade de Deus, com manifesta ofensa de
sua divina lei.
“Como
podem conciliar-se a lei divina e as leis humanas, tirando o direito de quem
tem para dar a quem não tem? Quem não sabe que o digno príncipe o senhor dom
Pedro 3º tem poder legitimamente constituído por Deus para governar o Brasil?
Quem não sabe que o seu digno avô o senhor dom Pedro 2º, de saudosa memória,
não obstante ter sido vítima de uma traição a ponto de ser lançado fora do seu
governo, recebendo tão pesado golpe, que prevalece o seu direito e,
consequentemente, só sua real família tem poder para governar o Brasil? Negar
estar verdades seria o mesmo que dizer que a aurora não veio descobrir o novo
dia. O sossego de um povo consiste em fazer a vontade de Deus e para obter-se a
sua glória é indispensável que se faça a sua divina vontade.[...]”[7].
* * *
A
respeito desse princípio, o professor Plinio Corrêa de Oliveira disse as
seguintes palavras:
“A
monarquia, mais do que uma fidelidade à dinastia ou uma saudade do passado –
que é também uma coisa boa, em seus termos; uma saudade do passado pode ser até
muito respeitável – é uma doutrina que põe em vista um princípio. E esse
princípio, que importa como corolário no princípio aristocrático, não é
meramente um princípio político, é um princípio da ordem universal. É um
princípio metafísico e religioso”.
“É o
princípio de que a ordem ideal para universo é a ordem monárquica e
aristocrática. Este é um princípio metafísico, é preciso não ver nele um
princípio meramente político. Ele tem repercussões políticas, mas não quer
dizer que necessariamente se deva ser monarquista. Essa, in concreto,
é outra questão”[8].
Referências:
[1] Boato
que originara a primeira expedição, conforme mencionamos no artigo
anterior.
[2] Ioiô
da Professora, codinome de João Siqueira Santos, era filho de Leolino Manoel
dos Santos e Erotildes Siqueira dos Santos, primeira professora da Vila do
Cumbe. Seu pai era um produtor rural da região que conheceu e negociava com
Antônio Conselheiro. Seu Ioiô contava que a mãe serviu de enfermeira para os
militares feridos vindos do palco da guerra. Ambos lhe deixaram muitas
histórias sobre suas experiências com a guerra de Canudos
[3] http://cmais.com.br/aloescola/estudosbrasileiros/sertoes/sertoes3.htm acessado
em 01/12/2016
[4] Republicanos
extremados invadiram as redações e tipografias dos jornais monarquistas Gazeta
da Tarde, Liberdade, e Apóstolo; chegaram a queimar os estabelecimentos e o
jornalista Gentil de Castro foi assassinado.
[5] Ataliba
Nogueira, António Conselheiro e Canudos, p. 7
[6] “Monarquia, república e Religião” Catolicismo,
novembro de 1996
[7] Ataliba Nogueira, António Conselheiro e
Canudos, p. 176 e 177
[8] De MATTEI, Roberto. O princípio
monárquico no universo e o “tal enquanto tal”. Plinio Corrêa de Oliveira - Profetado Reino de Maria.
p. 105
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Faça um blogueiro feliz, comente. A sua opinião é muito importante.