sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

“Fake News” e guerra psicológica revolucionária

“Fake News” e guerra psicológica revolucionária
 -

Hans Christian Andersen (1805-1875) foi um escritor dinamarquês, autor de contos infantis como Soldadinho de ChumboO Patinho FeioA Pequena Sereia etc. Entre suas várias obras, tornou-se célebre “A Roupa Nova do Rei”.
Nesse conto ele narra a história de um rei vaidoso que foi vítima – digamos – de uma má informação. O monarca foi informado de que havia em sua cidade dois visitantes que teriam muita habilidade em costurar roupas muito chiques e mágicas.
O rei chamou os dois forasteiros e lhes disse: “Ouvi dizer que os senhores fazem roupas maravilhosas, é verdade?” – “Oh sim, majestade. Não só maravilhosas, mas também mágicas. Somente os mais inteligentes podem vê-las, os tontos não veem. Mas estas roupas são muito caras”.
O rei então disse aos homens que eles podiam cobrar o que quisessem, mas o importante é que fizessem as roupas mágicas e magníficas.
Após uma semana, voltam os costureiros: “Aqui estão as suas belas roupas, majestade. Elas não são magníficas? De tão precioso o tecido, nem chega a pesar nada!”.
O rei e todos os seus criados não viram nada, mas para não passarem por tontos, exclamaram: “São realmente magníficas!”.

“O rei está nu”, alertou a criança.
O monarca decidiu usar as suas roupas “mágicas” num desfile pela cidade. À medida que o iam “vestindo” com aquelas roupas, os costureiros, ou melhor, os trapaceiros, diziam: “Oh majestade suas roupas lhe caem muito bem!”.
O rei olhou-se no espelho e exclamou: “Eu não estou encantador?” –  “Oh sim, majestade”, disseram todos os seus criados.
O monarca mandou então que abrissem todos os portões do palácio para que o povo o admirasse com a nova roupa.
Todos ficaram espantados ao ver o rei, mas como ouviram dizer que só os tontos não conseguiam ver a nova roupa, gritaram: “Como o rei está belíssimo!” Somente uma criança, no meio daquela multidão, gritou: “O rei está nu!”. E o rei percebeu que tinha sido enganado.
Os internautas aceitam o que diz a internet sem questionar a veracidade
Você tem de imaginar que uma pintura
 ou escultura está na sua frente”, diz Newstrom.
Em 23 de setembro de 2014 a rádio canadense CBC veiculou um programa baseado num texto do site da própria emissora. Nele, uma “artista” norte-americana, Lana Newstron, teria lançado uma “nova tendência” de obras invisíveis, as quais ela pretendia vender por 35 mil dólares.
Esse programa de rádio foi criado por dois comediantes, Pat Kelly e Peter Oldring, que fabricam histórias satirizando assuntos atuais. Eles esclarecem o seu objetivo:
“A artista de 27 anos, Lana Newstrom, diz que ela é a primeira artista do mundo a criar ‘arte’ invisível. Neste documentário, viajamos para o estúdio vazio para aprender mais sobre Lana e seu processo artístico incomum.
"Só porque você não vê nada, não significa que eu não coloquei horas de trabalho na criação de uma peça específica. (…) A arte é sobre a imaginação e é isso que o meu trabalho exige das pessoas que interajam com ela. Você tem de imaginar que uma pintura ou escultura está na sua frente”, diz Newstrom.

“Paul Rooney, o agente de Lana, acredita que ela pode ser o melhor artista que trabalha hoje: ‘Quando ela descreve o que não pode ver, você começa a perceber porque uma de suas obras invisíveis pode obter mais de um milhão de dólares’, disse Rooney.
Este é um programa de assuntos atuais que não só fala sobre os problemas, mas os fabrica. Nada está fora dos limites – política, negócios, cultura, justiça, ciência, religião – se for relevante para os canadenses, descobriremos o ‘Isto’ e o ‘Isso’ da história.
No campo artístico, há muito espaço para interpretação e pensamos que seria interessante empurrar a ideia para o extremo, a arte invisível”, disse um dos criadores do show na rádio canadense.
O mais surpreendente é que o site da CBC teve mais de 40 mil visualizações sem ninguém contestar a veracidade do fato. Por isso, comenta um de seus idealizadores As pessoas leem tão rapidamente na Internet que muitos não tomaram o tempo para verificar se era verdade ou não.
Fake News
As notícias falsas, chamadas “fake news”, têm ganhado espaço na internet e o TSE teme que elas possam influenciar no resultado das próximas eleições. Elas são produzidas por falsos perfis nas mídias sociais. Existem também os robôs digitais que reproduzem notícias falsas com uma velocidade incrível, com um determinado fim. “Os robôs são programas que agem de forma autônoma na internet, simulando o comportamento humano. São perfis falsos nas redes sociais. Bots ficam amigos de outros bots, e também de pessoas reais que não sabem da existência deles. São programados para visitar todo tipo de destino na internet, inclusive os portais de notícias falsas e as redes sociais. Simulam uma multidão de pessoas conversando ou vendo seu anúncio, só que é tudo artificial. Agem freneticamente: tanto para difundir opinião e fake news por meio de massificação (cut/paste), a serviço de algum interessado, que paga os programadores; bem como para inflar as audiências de publicidade, enganando os otimizadores de compra de mídia. Esta avalanche de tráfego falso é chamada de NHT, isto é, tráfego não humano, na sigla em inglês”, comenta um site especializado.[1]
Guerra Psicológica Revolucionária
Estamos, pois, diante de uma nova modalidade de guerra psicológica revolucionária. Os casos acima narrados, embora fictícios, podem ter sido uma experiência prévia ou uma demonstração de como se pode manipular a opinião pública.
O Professor Plinio Corrêa de Oliveira descreve como se processa a guerra psicológica revolucionária:
“Guerrear tirando do adversário a vontade de fazer a guerra é um modo ainda de guerrear. E a isto se chama hoje em dia uma arma a mais. Todos os especialistas da guerra além da infantaria, dos tanques, da marinha, da aeronáutica, da artilharia, reconhecem como nova guerra a guerra psicológica destinada a fazer que um país vença outro país.
“Agora o que é guerra psicológica revolucionária? Pode ser que uma determinada corrente empenhada em fazer uma Revolução use esses recursos contra as classes sociais ou contra as correntes ideológicas que se oponham a essa Revolução. É o caso do comunismo. Ele usa contra a burguesia toda a forma de recursos destinados a tirar da burguesia a vontade de resistir; a tirar da classe popular a conformidade e boa amizade com a burguesia e a jogá-la contra a burguesia, subconscientemente, por meio de estímulos. Esta é a guerra psicológica revolucionária.
Quando se lê a História, tem-se a impressão de que certos grupos históricos sempre conheceram – como? também não sei  –  essa arte. Porque quando vamos ver a expansão do Protestantismo no século XVI; da Revolução nos séculos XVIII e XIX, da Revolução Francesa; e do comunismo em nossos dias, e agora do ecologismo, nós vemos que sempre tudo se passa como se essa arma fosse utilizada por eles no próprio benefício e em detrimento ao adversário. Donde essas vitórias em cadência dessas revoluções sobre os adversários. É claro que não é o fator único dessa vitória, mas é um fator muito poderoso.”[2]
Opinião Pública, rainha do mundo
A respeito da opinião pública, diz Dr. Plinio no primeiro número da revista “Catolicismo”, em 1951: “‘A opinião pública é a rainha do mundo’escrevia Voltaire. Em nossos dias, esta afirmativa se torna cada vez mais verdadeira. Formar a opinião tem sido o objetivo constante de todas as forças ocultas ou não, que vêm tentando desde o século XVIII, ou quiçá desde o século XVI, a conquista do mundo.”
A opinião pública de hoje é uma rainha despida de valores morais e sem força para lutar. Vítima desse novo artifício de guerra psicológica revolucionária, ela se encontra abobada ou anestesiada e não dá ouvido quando alguém a alerta sobre esse grave problema. A insanidade parece ter dominado as mentes.
______________________

quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

A Honra: uma virtude esquecida

A Honra: uma virtude esquecida

Por Jurandir Dias

Nossa sociedade vive uma crise sem precedentes na história da humanidade. A desonestidade paira em todos os campos, especialmente na política. Os casos de prisões pela Operação Lava Jato da Polícia Federal, por exemplo, são prova disso. A causa dessa crise é a perda de valores morais, especialmente da honra.

Chegamos a esse ponto devido a um processo multissecular que vem desde a decadência da Idade Média até os nossos dias. Tal processo foi magistralmente exposto pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em seu livro Revolução de Contra-Revolução.[1]

O cavaleiro medieval

A Fé e a Honra são os traços marcantes do cavaleiro medieval
A honra era um sentimento que dominava e impregnava toda a vida social na Idade Média. A Cavalaria inspirou esse sentimento em algumas instituições poéticas, especialmente nos trovadores. Hoje, quando se quer dizer de um homem que ele possui a plenitude das qualidades do varão católico, diz-se que ele é um cavaleiro. Tal qualidade, infelizmente, também está em vias de desaparecer por causa do igualitarismo que nivela por baixo as pessoas, inclusive igualando os sexos feminino e masculino. Já não se tem o respeito que se deve a uma moça ou senhora.

O homem tinha muito respeito pela palavra empenhada nos negócios. Assim, por exemplo, no Brasil do século XIX havia pessoas que, como garantia, davam um fio de barba. A outra parte do negócio tomava aquele fio e o guardava num envelope, restituindo-o quando a dívida fosse quitada. O fio de barba valia mais do que a assinatura sobre o contrato escrito. Era o próprio contrato, pois com este gesto o devedor empenhava a sua honra; era a garantia de que cumpriria o seu compromisso.

Prisioneiro da honra

Guerra dos Cem Anos – Batalha de Crécy
 Manuscrito de Jean Froissard
Em uma aula sobre a Idade Média, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira conta a história de um senhor feudal francês que havia sido preso pelos ingleses na guerra dos Cem Anos. Exigiam dele certa quantia de resgate para que fosse posto em liberdade. Ele disse então:

— Eu não tenho dinheiro.
— Mas você tem o tal castelo que poder nos ceder.
— Não posso, porque esse castelo, eu empenhei minha palavra, pertence a fulano.
— Mas há outro castelo.
— Também não posso. Empenhei minha palavra, pertence a sicrano.
— Mas há tal coisa assim a que você tem direito.
— Não posso porque isso é de meu suserano. Tenho também minha palavra empenhada.
— Então você não pode nada?
— Não, em virtude das leis da honra, eu não posso nada. Não dou nada e continuo prisioneiro.

Este homem – comenta o Prof. Plinio – era prisioneiro apenas de sua honra. Os ingleses estavam dispostos a fazer com ele qualquer negócio, assinar com ele qualquer papel que lhes desse um pretexto para tomar esse castelo. Mas ele estava preso por uma prisão maior que todas as outras prisões: ele tinha sua palavra de honra.[2] (grifos nossos)

A honra é um dos maiores bens humanos. As pessoas, no empenho de manter a honra, são levadas a evitar o mal. Ela “liga-se à virtude da fortaleza através da magnificência, a qual fortalece a alma para empreender grandes feitos. De modo especial através do pudor, ela liga-se à virtude da temperança, a qual modera as inclinações do homem para que ele aja segundo os ditames da razão. Do mesmo modo a honra está ligada à virtude da justiça através da virtude da religião que nos manda respeitar os superiores.”[3]
 “A honra autêntica é o brilho da virtude, sua aura. É o eco da virtude na sociedade, o sinal de que ela é reconhecida e admirada. Ali onde a virtude está condenada a ficar sem eco e, portanto, sem brilho, ela não é acessível senão a alguns grandes solitários. De onde a necessidade de se continuar a cultivar a honra. A honra é uma intermediária necessária entre os ideais e o comum dos mortais.”[4]
Não há honra onde não há verdade nem justiça
No final da guerra do Vietnã, o representante do Vietnã do Sul foi pressionado a assinar um acordo de paz. Após a assinatura, num ato de repúdio àquele acordo, ele jogou a caneta no chão. Sobre isso, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira escreveu na Folha de São Paulo:
Nixon, discursando para seu país e para o mundo, asseverou que o acordo de Paris entre os dois Vietnãs podia ser considerado o início de uma paz com honra. O que há de real nessa afirmação?
Comecemos pelo que diz respeito à honra. Não há honra onde não há verdade nem justiça. Afirmou-se que aquele acordo foi feito sob a égide da justiça. Ora, isso não é verdade. (grifo nosso)
A justiça exige, num acordo em que se afirma não haver vencedores nem vencidos, uma inteira igualdade entre as partes. Ora, a desigualdade, no caso concreto, não podia ser maior.
É explicável – pelo menos sob certo ponto de vista – que se realize um plebiscito para saber se o povo do Vietnã do Sul quer a continuação do atual regime. Mas, então, por que não se organiza também um plebiscito para averiguar se o povo do Vietnã do Norte deseja a continuação do regime comunista?
Se os EUA retiram suas tropas do Vietnã do Sul, por que não faz o mesmo a outra parte beligerante? Em outros termos, por que os norte-americanos não têm o direito de estar no Vietnã do Sul, mas se admite que, depois do armistício, ali se encontrem aglutinados em incontáveis bolsões, os guerrilheiros do Vietnã do Norte?
Num acordo em que tais disparidades – para não falar senão destas duas – se ostentam desinibidamente, ninguém pode falar de honra. E afirmar que esse início de paz é baseado na honra, é pura e simplesmente uma inverdade.
Aliás, este acordo nem sequer constitui um genuíno acordo. Quando ele foi assinado, todos previam que não daria início à paz, mas simplesmente à retirada dos norte-americanos. E aí estão os fatos. Mal serenadas (por quanto tempo, ninguém o sabe...) as hostilidades no Vietnã, Pequim e Hanói se saem com uma investida contra o governo anticomunista do Camboja, e exigem tanto a restauração do governo pró-comunista de Suvana Phuma quanto a retirada das tropas americanas.
Todos os que celebraram esse "acordo", pelo mundo afora, com discursos e festas possuem de sobejo os elementos para medir a precariedade desse acordo. Eles comemoraram com a mais contraditória das alegrias um início de paz com honra, que nem promete uma verdadeira paz, nem se fez segundo a honra.
De minha parte, acho infinitamente mais lógica a atitude do representante do Vietnã do Sul que, depois de haver assinado o acordo sob pressão brutal dos acontecimentos, jogou a caneta ao chão...”[5]
Uma frase de Churchill se tornou célebre quando os primeiros-ministros da Grã-Bretanha e da França – respectivamente, Chamberlain e Daladier – celebrara o Pacto de Munique com Hitler, em 1938: ‘Entre a desonra e a guerra, escolheram a desonra, e terão a guerra’.
A infâmia e a ignomínia são contrárias da honra
Por aí se veem as consequências desastrosas da perda do sentido da honra. Para possuí-la totalmente o homem precisa praticar todas as virtudes. Neste sentido, a honra é a beleza espiritual que reluz na conduta do homem virtuoso.[6]
O contrário da honra é a infâmia ou ignomínia. Diz a escritura: "A glória será o prêmio do sábio, a ignomínia será a herança dos insensatos”. (Provérbios 3, 35)
Nos dias atuais, entretanto, o homem em sua hipocrisia vai além e se jacta da sua própria degradação. Chega-se às vezes a zombar das virtudes e da honra.
Os heroicos Macabeus que no Antigo Testamento lutaram contra os erros de sua época tinham como lema: “É melhor morrer do que viver em uma terra devastada e sem honra”. Mas nós, que temos a honra de sermos católicos apostólicos romanos e que fomos resgatados pelo Sangue preciosíssimo de Nosso Senhor Jesus Cristo, pelos méritos de sua Paixão e Morte na Cruz, preferimos dizer: “É melhor lutar do que viver acomodado em uma civilização devastada e sem honra!